ABRAÃO
"É o caso de Abraão, que creu em Deus,
e isso lhe foi imputado para justiça"
Gl. 3:6
No Livro de Gênesis conhecemos a história de Abraão. Este homem foi encontrado por Deus com a virtude de crer em Deus quando ninguém mais cria. Seu contexto era de ceticismo e ateísmo, era um contexto politeísta, idólatra, e de tradições fortemente convincentes do ponto de vista da fórmula de "causa e efeito" praticada por legalismos, auto-flagelação, oferendas a todo tipo de deus diante da combinação entre imoralidade e favores supostamente divinos. Contra tudo e contra todos, inclusive de seus familiares, Abraão era um monoteísta convicto, pois cria apenas nAquele que criou todas as coisas e que exigia culto exclusivo por sua santidade e perfeição dos Seus juízos. Assim, sua vida moral era íntegra e ela temia ao Senhor.
Deus prometeu dar-lhe uma descendência poderosamente numerosa (Gn 12:1-3), por meio da qual todos os seus opostos seriam abençoados. A posteridade era considerada uma das mais ricas dádivas divinas, enquanto a esterilidade era considerada vergonha, maldição e motivo de repúdio (Gn. 16:1-4 cf. Os. 9:14; Lc. 1:25). Sara, sua mulher era estéril (Gn. 16:1), estava avançada em dias (Gn. 17:17, 18:11) e a promessa ainda não havia se cumprido. Idoso, Abraão ouve novamente a promessa de Deus, aproximadamente 20 anos depois que foi mencionada pela primeira vez (Gn. 15:1-4). Neste episódio Deus lhe mostrou as estrelas nos céus e reafirmou : "Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse : Será assim a tua posteridade". Apesar de toda circunstância que poderia dizer : "Abraão, caia na real, seu Deus não existe, essa sua expectativa é um mecanismo de defesa da sua mente que rejeita a frustração de não ter filhos"; ele agiu assim : "Ele creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça" (Gn.15:6). Em outra ocasião Deus insistiu : "Far-te-ei fecundo extraordinariamente, de ti farei nações, e reis procederão de ti" (Gn. 17:6).
A ALIANÇA COM DEUS
Após aliança, Deus, como era de se esperar, cumpriu a promessa no tempo determinado por Ele e Sara, idosa, estéril e desconfiada, gerou Isaque, filho de Abraão e herdeiro da promessa (Gn. 17:18-22, 21:1-4). O momento mais dramático foi quando, depois de tudo, Deus lhe pediu Isaque por meio de sacrifício (Gn. 22:1-18). Abraão estaria louco de matar seu único filho a pedido de Deus ? Seria realmente Deus pedindo a prática de infanticídio ? Não seria mais convincente acreditar que era o diabo ? Todas estas perguntas poderiam facilmente ser feitas por qualquer pessoa se estivesse diante de tamanho drama de ter de sacrificar seu filho a pedido de Deus.
No Livro de Gênesis, os personagens tinham uma relação muito mais direta com Deus que os crentes dEle de hoje. Lemos muitas autênticas histórias em que Deus falava com os Seus como se estivesse sentado ao lado de cada um. O diálogo era literal e direto. Neste mundo, a identidade do Ser que pediu o sacrifício não poderia ser posta em dúvida. Abraão sabia que era realmente Deus quem lhe falara. Paralelamente, em nossa época, ninguém pode estar certo sobre ouvir a voz de Deus quando o que Ele pede vai além da nossa lógica ou ambições pessoais mais protegidas e que nos fazem sentir seguros. Quando "ouvimos" um pedido que combina com nossas expectativas, não importamos se quem pede é Deus, apenas aceitamos como se fosse. Daí temos o resultado de tantos absurdos praticados em nome de Deus como atos terroristas, pressão sobre os fracos na fé para explorar suas finanças, manipulação da agenda das pessoas para manter a igreja cheia sob a chantagem de serem perseguidas por supostas maldições e até de perderem a salvação caso não consigam carregar todos os fardos do legalismo e fanatismo religioso.
Abraão confessou e praticou tamanha fé que se tornou paradigma para todos os crentes em todos os tempos. Sua história é de fé genuinamente aprovada por Deus.
Mas se histórias como essas tratam da natureza da nossa fé em Deus, qual é a mensagem ? A fé antecede a obediência. Deus já tinha prova de que Abraão cria (Gn. 15:6), a obediência neste caso é apenas uma expressão da profundidade da fé e não propriamente de sua existência. A história de Abraão, desde que foi chamado por Deus para deixar sua terra e histórias familiares ali construídas para um lugar sem qualquer informação de destino (Gn. 12:1), demonstra que uma pessoa de fé verdadeira pode não precisar de provas para exercê-la, sendo este capaz inclusive de ir além delas, simplesmente por acreditar que mesmo um pedido sem sentido óbvio tem da parte de Deus propósito aprovado além da compreensão humana. Esta fé está firmada no Ser de Deus, e não exige comprovações externas pelo pressuposto da dúvida sobre quem Ele é.
Abraão é o personagem da fé verdadeira, não exigiu provas para crer, simplesmente creu em Deus a despeito de filosofias que justificam seus atos diante de humanistas que preferem crer que são resultados do acaso cósmico.
Antes de verdadeiramente sacrificar seu filho Deus o impediu e foi revelada a profundidade da fé que Ele espera de cada um de nós. Ele realmente, na lucidez da sua alma, executaria seu filho. Certamente acreditaria que o mesmo Deus que estabeleceu a aliança da qual seu filho foi resultado e por meio de quem sua descendência se tornou numerosa, ao pedir o sacrifício de seu único filho, Isaque, Ele providenciaria um meio e manifestaria Sua fidelidade, mesmo que Isaque tivesse de ser ressuscitado. Não hesitou momento algum desobedecê-lo.
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